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A intensidade e a qualidade na criação artística em Maputo dão a tônica do dinamismo das produções culturais na cidade. Com um ecossistema cultural peculiar, a capital moçambicana combina o financiamento e apoio estrangeiro a partir de representações diplomáticas com uma tradição de organização associativista presente nos principais grupos das diferentes categorias profissionais artísticas. O resultado é uma cidade cosmopolita que condensa o multiculturalismo e os contrastes do país.

Da intersecção entre a cooperação internacional e a dinâmica comunitária local nasce em 2009 o Movimento Literário Kuphaluxa, formado por jovens em meio às atividades do Centro Cultural Brasil Moçambique (CCBM). É a partir da percepção da importância da atuação das instituições culturais estrangeiras para dinamizar o setor, e também da necessidade da fruição da produção cultural em Moçambique acontecer fora dos centros culturais e próximo à comunidade, que se cria a agremiação.

Como consequência desse projeto surge, em 2012, a LITERATAS – Revista de Artes e Letras de Moçambique, com o desafio de construir coletivamente a formação de um público nacional capaz de vivenciar os fazeres artísticos concebidos em língua portuguesa, tanto de Moçambique como das demais comunidades que compõem a CPLP. A revista é feita por uma equipe de voluntários e conta com a colaboração de artistas e pensadores locais para garantir publicações diárias que trazem a expressão criativa e o diálogo intercultural em seus conteúdos.

Desde sempre em formato online, a LITERATAS oferece um terreno fértil para o avanço da pluralidade de iniciativas e diversidade de vozes. Com isso, permite à juventude moçambicana a possibilidade de uma experiência não hierarquizada, que amplia o repertório cultural e apresenta o contato com as artes como um vetor de desenvolvimento humano.

O trabalho em rede e interativo condiz com a estrutura impermanente da cultura em Moçambique. A estrutura líquida do formato online traz adaptabilidade e prontidão de resposta, fazendo com que, em seus oito anos de existência, a LITERATAS tenha conseguido estabelecer sua marca no jornalismo cultural moçambicano, transformando-se em interlocutor privilegiado para compreensão das dinâmicas locais.

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Em Moçambique e, mais precisamente, na cidade de Maputo, que é o epicentro da epidemia no país, foi decretado o estado de emergência nível 3, que não impõe o confinamento à população, mas cria condições para que ele exista. Ficar em casa é o apelo do governo. Houve a suspensão do pré-escolar até o nível universitário e a implementação do teletrabalho, sempre que possível, para evitar de haver muitos trabalhadores no mesmo sítio. Só está nos escritórios, fábricas e locais de trabalho quem é indispensável. Mesmo as reuniões no parlamento, envolvendo o poder público, estão a funcionar assim.

Depois, houve a implementação de medidas de redução de aglomerados e a suspensão de todos os eventos recreativos, desde a cultura até o desporto. Todos os estabelecimentos de lazer, incluindo pequenos bares, foram encerrados e a polícia está a fiscalizar. Existe a imposição do uso de máscara sempre que nos fazemos à rua e há medidas de controlo de especulação dos preços de produtos higiênicos e alimentares, uma vez que somos muito dependentes da África do Sul e sempre que há anomalias pode haver aproveitamentos.

Um dos grandes problemas em África, de maneira geral, é o transporte público. É muito o congestionamento e a gente nos autocarros. Os autocarros reduziram em torno de 50% a sua lotação e a lavagem das mãos em algumas paragens é obrigatória, inclusive com a presença de agentes de saúde. A cidade mudou. Até os que não têm grandes condições financeiras fizeram tudo para ficar em casa, mas agora está difícil. O país não está organizado para nos permitir confinamentos em modelos ocidentais, em que realmente as pessoas podem ficar em casa, simplesmente a pensar na saúde. Isso não é possível. Nós não estávamos preparados para isso, mas todo mundo está consciente e está a fazer as medidas de prevenção. Grande parte da população moçambicana economicamente ativa está no setor informal, que é bastante fragilizado porque não há políticas específicas. As pessoas muitas vezes vivem daquilo que fazem e ganham no dia, então é muito complicado.

O governo percebeu que já não pode manter as pessoas em casa na sua totalidade. Agora o critério é que só saiam se realmente for inevitável, o que agora inclui até quem precisa de ir à rua para atender suas coisas. A crise da pandemia da COVID-19 não é uma crise normal, não é apenas uma crise da moeda, mas sim uma crise de saúde pública que também afeta grandemente outros setores. A única imagem que temos é de uma grande incerteza.

 

O Ministério da Cultura lançou apenas recentemente um mapeamento do setor artístico e criativo no país. É a primeira vez que se preocupam em mapear quem são os artistas e quais são as empresas do ramo cultural. Isso foi lançado após um mês do decreto do primeiro estado de emergência. Só agora que o Estado está a perceber que haverá impactos nesse setor que, no entanto, desconhece. Nunca estivemos preparados nem para responder às situações do dia a dia normal, como o caso de artistas que queiram realizar um festival, por exemplo. Há, entretanto, como sempre acontece nesses momentos, o apelo para que os artistas façam campanhas de prevenção etc. Não há nada além disso. O Estado não tem a resposta, não existe nenhum fundo nacional. Temos apoios da União Europeia e seus países e de algumas organizações regionais. O Instituto Camões, junto com a União Europeia, já havia lançado um programa chamado ProCultura PALOP-Timor Leste, que tentou se adaptar a esta nova realidade, estendendo o prazo para entrega de candidaturas e aceitando projetos criados em função da pressão da pandemia.

O programa União Europeia PROCULTURA PALOP-TL disponibiliza bolsas de estudos internacionais para licenciatura e mestrado nas áreas de Música e Artes Cênicas com o objetivo de criar empregos na economia cultural e criativa dos países africanos de língua portuguesa (PALOP) e do Timor Leste. A iniciativa é gerida pelo Instituto Camões, com cofinanciamento da União Europeia e da Fundação Calouste Gulbenkian.

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O setor cultural moçambicano tem alguma bipolaridade. Por um lado, é forte sob o ponto de vista dos artistas. É bastante criativo e inventivo. Maputo, sobretudo, é uma cidade que não dorme, que não se rende, é de fato uma cidade muito forte. Até a organização dos bairros da cidade diz muito sobre a nossa multiculturalidade. Falam-se mais de 20 línguas, pode-se imaginar o quanto somos diferentes, mas fazemos disso uma grande forma de ser e estar. O outro lado é o institucional, a parte mais caótica da coisa, que não está nada estruturado, nem pensado. As instituições parecem que vão surgindo em cima dos acontecimentos, na medida em que vão surgindo as coisas. Nessa perspectiva, não temos políticas públicas para o setor. É uma espécie de terra de ninguém, com muita coisa nova, muito crua. São os setores internacionais que são responsáveis pela economia cultural aqui na cidade, e os artistas em Moçambique, na verdade, vivem de financiamentos externos. Outras experiências de crise, como em 2008, mostraram que não houve grandes reduções em termos dos aportes e da ação cultural internacional aqui, embora haja algum paternalismo em como as relações são mantidas, sobretudo com Portugal.

Depois da independência, o regime socialista foi bastante forte do ponto de vista cultural. O Estado assumiu a cultura e fundou as principais associações artísticas do país, como a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), a Associação Moçambicana de Fotografia e a Associação dos Músicos de Moçambique (AMMO), mas parou por aí. Quando entramos nesta nova realidade capitalista, então tudo isso ficou confuso e já não se sabia qual era o papel do Estado, que acabou abdicando de regular e legislar a favor da cultura, e é por aí que nós vivemos.

Desde 2016, eu sou empreendedor na área de comunicação e vivo disso. O setor cultural foi o mais afetado pela crise dessa pandemia, porque vive de aglomerados. Tudo parou. Inevitavelmente os artistas tiveram que parar. Produtores culturais, programadores, empresas que prestam serviços etc., esses sim estão confinados em casa, e as coisas não estão boas, a não ser que migrem para a internet, como é o que está a acontecer agora.

O acesso à internet na cidade de Maputo, entretanto, é ruim. Maputo é a cidade capital e todas as decisões acontecem aqui, de modo que ainda é um pouco melhor do que no restante do país. Eu posso dizer que eu faço parte de um grupo minoritário com algum privilégio de ter uma rede estável com fibra ótica. Tudo aquilo que depender da telefonia móvel tem uma má qualidade, sobretudo os negócios que envolvam vídeo. A nossa internet aqui, praticamente, só serve para entrar no Facebook e no WhatsApp. Agora, para pensarmos em eventos a usar o streaming, já há dificuldade.

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A Revista LITERATAS surgiu em 2012 como um espaço de divulgação da literatura moçambicana que ainda não existia no país. Sempre foi online e foi concebida para estar nesse espaço por várias razões. O mercado gráfico em Moçambique, apesar de consideravelmente grande, é muito caro. A internet era o que já tínhamos acesso, então criamos a revista em um blog, primeiramente, e a partir daí começamos a fazer edições em PDF.

A revista é um órgão de informação, discussão e divulgação. Antes, era apenas literária, mas a partir de 2015 passou a ser de letras, artes e pensamento contemporâneo. É um espaço de diálogo democrático interligado, pensado na vertente de outros povos, outras culturas e comunidades falantes da língua portuguesa. Aqui há uma grande aproximação histórica com Portugal, mas com outros países também, principalmente com o Brasil, por causa das telenovelas, por exemplo. Há, entretanto, um grande vazio nas trocas da produção artística. Em Moçambique, ainda hoje falamos de Jorge Amado como se andasse nas ruas da Bahia, porque de fato paramos lá. Desde o início, nós quisemos ser uma revista para essas pontes de diálogo e para percebermos as novas formas do pensar e do fazer artístico nos nossos países.

Esse processo foi amadurecendo e penso que a revista foi se encontrando. Em 2018, finalmente criamos o website, que é atualizado todos os dias, e que estamos a aperfeiçoar cada vez mais. Neste momento a revista é feita por amigos. Somos quatro jornalistas e asseguramos a parte editorial. Também temos uma série de escritores, atores de teatro e outros jornalistas que contribuem com artigos. Todos os colaboradores são voluntários. Num sistema em que desde criança nós somos educados para ir pedir emprego, os jovens encontram-se muitas vezes inutilizados e desocupados.

Nós temos a felicidade de termos surgido nesse espaço digital e de podermos vivenciar grandes mudanças. Em Moçambique as coisas que são feitas na internet são desprezadas, não há credibilidade. Hoje nós somos uma referência cada vez maior, enquanto uns agora descobriram que precisam de internet para continuar a trabalhar. Em janeiro ninguém imaginava este caos. Nenhum dos setores. Diria mesmo que até março nós não imaginávamos que estaríamos mergulhados neste cenário. Não havia um plano B, só havia o plano A.

Nós iríamos existir normalmente como sempre existimos, a colocar em prática nossa ação de informação cultural, as nossas reportagens e entrevistas. Este ano, sobretudo, era o ano em que iriamos fazer uma grande aposta no audiovisual. Em nosso site temos um espaço de vídeo que não tínhamos antes. O nosso plano era nos afirmar como produtores de conteúdo, não só virados ao texto e à fotografia, mas também ao áudio e à imagem em movimento, em um processo de cada vez mais digitalização, em um verdadeiro jornalismo multimídia.

O Festival LITERATAS é uma das maiores iniciativas literárias de Moçambique, contando com feiras de livro, debates, oficinas de criação e concertos. Com a primeira edição ocorrida em 2015, acontece na Matola, na região metropolitana de Maputo, e tem como objetivo a expressão da literatura moçambicana, a formação de leitores e o acesso ao livro. O festival é organizado pela Associação Movimento Literário Kuphaluxa em parceria com o Conselho Municipal da Matola.

Desde 2015, organizamos um dos principais festivais de literatura de Moçambique, o Festival LITERATAS, que não fizemos no ano passado por questões de financiamento. Este ano queríamos retomá-lo. A questão é que não há políticas para financiar nada aqui. Nosso plano passava por fortalecer a parceria com as instituições culturais que têm feito muita diferença e que retomam alguma vitalidade ao setor, como o Instituto Camões e o Centro Cultural Brasil Moçambique (CCBM), com quem trabalhamos desde 2009. A parceria institucional com o CCBM é sólida. Mudam-se Embaixadores, mas a relação consegue sobreviver. Contribuímos muito para a programação literária do centro, o que nos permite algum apoio financeiro para a produção da revista. Houve um tempo em que até a nossa sede funcionou ali. Nós frequentamos muito a biblioteca do CCBM que é onde, praticamente, nasce a Revista LITERATAS.

Eu posso dizer que a crise para a Revista Literatas foi boa. Passamos a programar melhor os nossos conteúdos e a pensar muito na nossa intenção, com ideologias muito mais definidas, a saber o que queremos dizer e a quem. Passamos também a ter mais tempo para a revista, pois ela não gera dinheiro e muitos de nós temos que fazer outras coisas para sustentar o projeto. Passamos a produzir mais, a nos estabelecer melhor nesse espaço da internet, e a produzir conteúdos que envolvem cada vez mais outros grupos de intelectuais e artistas.

Entretanto, nós tivemos que fazer investimentos no sentido de definitivamente instalar internet em nossas casas. O acesso, agora, tem que ser 24h, isso mudou a nossa forma de gerir nossa vida. Para alguns isso não é possível. A empresa que fornece internet não chega na zona de um de nossos colaboradores, por exemplo, e ele vive dentro da cidade de Maputo.

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Temos ainda desses problemas. Depois, existe a necessidade de investir em programadores dos websites, para tornar a coisa mais responsiva e acessível, sobretudo a considerar a baixa qualidade de internet. Um dos grandes desafios é saber como fazer para que até quem tem a internet instável e lenta, consiga ter acesso ao nosso conteúdo. Hoje temos pessoas e instituições que partilham, leem e procuram a nossa revista como não tivemos antes.

Começamos também o projeto Pensar África, em parceria com uma editora jovem que traduz clássicos africanos para a língua portuguesa, chamada Ethale Publishing, com quem já tínhamos relações estabelecidas. Nesse projeto, vamos praticamente todos os dias divulgar entrevistas a grandes intelectuais africanos contemporâneos. Nunca fizemos isso. Sempre desejamos, mas nunca tivemos tempo. Hoje podemos. Estamos a funcionar melhor como revista, porque o nosso voluntariado já nos dá mais tempo para exercer.

Temos um claro propósito de formação de leitores. Fizemos esse projeto para responder a isso. Também já vamos na segunda edição do projeto Contos e crónicas para ler em casa, em que aproveitamos para dar conteúdo às pessoas, dar motivo para abrirem um livro, para ler e descobrir o que é que eles têm. Todo mundo está numa espécie de stop, todos um pouco parados, dá para pensar, para observar…

A coisa que mais me emocionou com esta pandemia é que tivemos uma grande subida de leitores mais jovens, sobretudo com as duas antologias que nós lançamos. O nosso público é formado em sua maioria por jovens já na fase adulta, que já está nas academias, que vive a gestão cultural no geral e já tem alguma tradição e hábito de consumo de informação.

Esse não é um público muito grande em Moçambique e temos consciência disso. Também temos muitos moçambicanos na diáspora que consomem nossos produtos, provavelmente com saudades da terra, mas também, porque de fato quando se está fora, provavelmente se vê melhor o que nós temos de bom e o que acontece aqui. Para além disso, toda a comunidade artística e as instituições culturais locais conhecem e consomem o nosso trabalho.

Nós, a partir de junho, queremos vender alguns conteúdos da revista online. Fizemos uma pesquisa e vimos que podemos dar esse passo. Encontramos já um parceiro para viabilizar a parte financeira e a plataforma, e nós vamos trabalhar com o conteúdo. Há mudanças que nós temos que fazer e não são poucas… A tecnologia é muito cara. Nós fizemos esse autofinanciamento, esperando que não caiamos de cara. Em Moçambique, há ainda uma grande desconfiança com aplicativos móveis para fazer compras na internet. Então é mais uma missão para formar e educar as pessoas. Os artistas terão de aprender a trabalhar cada vez mais com as comunidades. O que acontecia era o inverso, corríamos para ir ao centro cultural, porque lá é onde há dinheiro, e ignorávamos a nossa comunidade. É normal eu ser artista aqui e na minha rua ninguém saber o que eu faço, como é que o faço…

Os centros culturais estão preocupados em fazer atividades nos seus espaços, tem a sua política e o seu campo de atuação, mas também há instituições que atuam nas comunidades e nas escolas públicas, que tem grandes problemas. A Escola Portuguesa de Moçambique (EPM), por exemplo, que não é uma escola qualquer, para o cidadão comum, está a fazer um grande trabalho para a formação de leitores a publicar livros infanto-juvenis, e a realizar festivais e jornadas de leitura.

É preciso dar uma grande relevância àqueles que vão ao encontro da população vulnerável, sem acesso à cidade. Tudo aqui de cultura, de grande envergadura, acontece no centro de Maputo. Eu quando entrei em uma biblioteca pela primeira vez devia ter 19 ou 20 anos. Muito da população moçambicana é assim. Muitos miúdos entram pela primeira vez à biblioteca quando vêm a Maputo fazer o ensino superior. O Festival LITERATAS é irreverente no sentido da localização, pois nós o fazemos fora da cidade de Maputo, na Matola.

Nós já estamos habituados a operar estas parcerias que não envolvem dinheiro, mas sim a união de esforços para tornar uma ação possível. Provavelmente, é isso que terá de acontecer e teremos de aprender uma nova solidariedade a partir de agora. É uma oportunidade de encontrarmos em ações locais um tipo de solidariedade que ainda faltava desenvolver, como o crowdfunding, por exemplo.

Acho que conseguimos, finalmente, falar o que geralmente não se fala no jornalismo, nem mesmo na literatura. Nós temos pouca literatura para jovens. Enfim estamos a construir esse novo público de estudantes universitários, o que sempre foi a nossa preocupação, e nós queremos manter isso. Queremos produzir mais conteúdo. Teremos que tirar o nosso preconceito de que o moçambicano não entende, não apoia e não compra cultura. Não é bem assim. Neste momento de crise é que nós percebemos que os moçambicanos consomem cultura e gostam de consumir. Os livros que disponibilizamos tem mesmo alguns kilobytes, para que qualquer um consiga baixar. Isso também foi uma das chaves do sucesso do projeto. As antologias que nós fizemos tiveram mais de 20 mil pessoas a ler. Nunca tivemos isso aqui. Não será esse um sinal de que as pessoas estão dispostas para consumir?

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A Sintaxe de um sujeito composto
Geração 80
Lia Rodrigues Companhia de Danças
Centro Cultural do Mindelo
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