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Ocupando o edifício restaurado da velha Alfândega, em frente à Baía do Porto Grande, o Centro Cultural do Mindelo (CCM) é uma das mais importantes estruturas culturais da cidade do Mindelo, capital da Ilha de São Vicente e capital cultural de Cabo Verde. Com uma programação diversificada, que se estrutura com foco nas artes performáticas, o CCM atua como um espaço aglutinador da cena artística, cultural e educativa da cidade, organizando uma série de eventos em parceria com ampla rede de instituições e acolhendo diversas iniciativas, entre elas um dos mais importantes festivais de teatro da África, o Mindelact.
Instalado em um edifício declarado patrimônio cultural, o CCM é regido diretamente pelo Ministério da Cultura e da Indústrias Criativas de Cabo Verde e se insere em uma nova política cultural do país, em um esforço para projetar e conectar a Ilha de São Vicente e as demais ilhas do arquipélago com o circuito das artes em nível internacional. Articulando-se com uma rede de parceiros internacionais em expansão, o CCM alia seus esforços de projeção a uma ação cultural local muito precisa, naquilo que sua direção artística entende como uma contaminação positiva, potencializando os diálogos transnacionais para fomentar a mediação educativa e atuando como uma real plataforma de intercâmbio.
Empreendendo reformas no currículo educativo, definindo políticas estruturantes para o setor cultural e realizando um extenso programa de reabilitação do património construído, Cabo Verde tem conferido grande centralidade à potência de sua produção cultural. A recente atribuição pela UNESCO do status de Patrimônio Imaterial da Humanidade à Morna, gênero musical nascido no país no século XVIII e que conquistou o mundo na voz de Cesária Évora, é testemunha de um profundo compromisso com o patrimônio cultural e vontade política para pôr projetos em marcha.
Com três das nove ilhas de Cabo Verde – Boa Vista, Santiago e São Vicente – afetadas com primeiros casos de COVID-19, as coisas iam se desenvolvendo de maneira gradual. Dia 19 de março, o governo achou por bem decretar o estado de calamidade, seguido de perto pelo estado de emergência. De imediato, foi ordenado o fechamento dos espaços públicos e passou-se a arquitetar uma metodologia que desse conta de não deixar que a pandemia se propagasse.
Houve, entretanto, em Boa Vista e Santiago, um disparo no número de casos, sobretudo em Santiago que é a ilha capital e a mais complexa. A Praia é uma cidade muito particular que, por razões históricas, como a seca, acabou por desenvolver-se de forma bastante complexa, com bairros bastante densos, o que contribuiu para que a propagação do vírus se desse de maneira muito rápida. É também a cidade que reúne a população de todas as ilhas.
Para além das questões internas, Cabo Verde também depende de alguma maneira de questões externas, ligadas às diásporas e ao turismo, que contribuem de maneira importantíssima para toda a balança econômica do país. Esses dois setores são muito afetados pelo rompimento na comunicação com o mundo, o que faz com que nós passemos a ter que trabalhar apenas com o local. Vamos observando aquilo que acontece em outras paragens do mundo, pois o impacto dessa crise na Itália, por exemplo, acaba por ter uma relação direta com a Ilha do Sal. Assim como nos Estados Unidos, na Holanda e na França. Neste momento, navegamos esperando melhores condições e ninguém consegue vislumbrar uma normalização tão rápida da situação.
O Centro Cultural do Mindelo é dedicado principalmente às artes performáticas – a música, a dança e o teatro, que são as expressões mais fortes. É um espaço, talvez único, que recebe todas as grandes atividades da cidade.
O Mindelo é uma cidade cultural, com aproximadamente 90 mil habitantes, onde se produzem várias atividades ao longo do ano, como o Mindelact, que é o grande festival de teatro e já vai para sua 26ª edição.
Nós também recepcionamos outras atividades performáticas, festivais ligados ao cinema, assim como conversas e projetos ligados às associações culturais da cidade. Também as universidades e institutos universitários realizam algumas de suas ações aqui. Nossa programação anual é estruturada em quatro temporadas de três meses, e cada temporada tem um objetivo e uma temática. A primeira, nós chamamos de Palavras, formas e sons; a segunda, Corpo e Pensamento; a terceira, Memórias Atlânticas, e a última é chamada Arte contemporânea.
Criado em 1995, o Festival Mindelact é o principal evento teatral de Cabo Verde e o mais importante de toda a África Lusófona e Ocidental. Acontecendo já há 22 edições na cidade do Mindelo, o festival promove o intercâmbio entre seus participantes, assim como ações de formação, concertos de música, exposições de design e artes plásticas.
Nós abrimos a nossa temporada poeticamente no dia 21 de março, que é o dia mundial da poesia. Nesse dia nós fazemos sempre a abertura, que leva um nome bastante sugestivo: Micadinaia Fest – nome criado por um escritor e poeta Cabo Verdiano, João Vário, um dos homens contemporâneos mais interessantes deste país. A cada edição, o objetivo é abrir as nossas três portas frontais e fazer entrar durante o dia, desde a manhã até a meia-noite, atividades contínuas. Sendo Cabo Verde um país da poética e da poesia, da procura do som, onde a máxima é o som e não só a música, o Centro Cultural do Mindelo serve como uma estrutura matriz.
Na realidade somos uma equipe muito pequena. Somos sete. Eu estou à frente da direção artística, e temos uma administradora e uma designer. Depois, temos dois seguranças e um técnico multifunção, que trabalha sobretudo na parte de som e luz da casa. Além disso, contamos com uma profissional de limpeza. Nós estamos diretamente ligados ao Ministério da Cultura e Indústrias Criativas e temos contratos renováveis.
Este ano seria a quarta edição do Micadinaia Fest, que seria uma temporada de consolidação do programa. Iríamos apostar justamente naquilo que chamamos de “sonoro”. Nós tínhamos previstas performances, instalações, exposições, concertos, várias coisas… Tínhamos uma grande exposição de um pintor e escultor italiano, artista que também estaria presente para a inauguração.
Teríamos ainda um recital de piano, com a leitura de textos de uma atriz cabo-verdiana portuguesa, Flávia Gusmão, acompanhada no piano por Pedro Gregório, arquiteto e músico. No grande auditório teríamos uma banda criada exclusivamente para este dia da inauguração, com a direção de Vamar Martins, músico e compositor.
Com a chegada da pandemia da COVID-19, acabamos por ter de cancelar isso tudo. O nosso espaço é fechado, destinado justamente à reunião e ao encontro de pessoas, e na inauguração da temporada, temos quase mil pessoas a entrar pela casa ao longo do dia. Nós vivemos com o público. Não oferecemos serviços. De modo que isso mudou toda a nossa geografia.
As paralisações ocorridas devido ao avanço da pandemia afetaram por completo muitos dos nossos trabalhadores e fornecedores indiretos. Nós funcionamos como uma espécie de elo e motor que movimenta a cidade e toda a sua diversidade artística, proporcionando e instigando encontros vários. Isso afetou sobretudo a classe artística, que foram os primeiros a perder trabalho, e que serão também os últimos, imagino, a voltarem a poder trabalhar. É toda uma série de profissionais que trabalham sob a demanda do calendário do setor cultural da cidade, que já estava marcado, em grande parte, com muitos serviços contratados.
O Ministério da Cultura e Indústrias Criativas lançou uma espécie de manifesto em prol dos artistas e criou um edital com um programa online, EnPalco100Artistas, no sentido de dar algum alento neste compasso de espera. Na verdade, a crise é muito mais profunda do que estamos a pensar, porque todo o setor técnico, que monta e opera a infraestrutura que permite com que o setor cultural funcione, como os técnicos de som, luz, elétrica e outros, depende dessas atividades para poderem exercer suas profissões.
Esta imprevisão de não se saber o que está a e irá acontecer, a cada dia cria uma preocupação maior. Até o momento, no Centro Cultural do Mindelo, em relação à nossa equipe, não sentimos que teremos que chegar ao ponto de realizar demissões e não vemos isso no horizonte como possibilidade. O que, sim, nós temos nos confrontado é com a necessidade de repensar nossa forma de atuação, inclusive pensando em contratar mais técnicos para responder às necessidades do momento.
De nossa parte, não tivemos grandes prejuízos, uma vez que trabalhamos com um orçamento anual pré-concebido e já tínhamos uma programação desenhada para 2020 e 2021. Neste momento, estamos todos a estudar como reutilizar este mesmo orçamento e como dispensar recursos para programas que venham no sentido de apoiar o setor cultural e artístico, na previsão de deixar uma parcela não usada em nossa programação que foi cancelada em prol do apoio ao setor.
Este ano para nós seria um ano de contaminação positiva, em que traríamos e levaríamos profissionais destas ilhas para o exterior e também traríamos pessoas de fora para cá. Sendo uma ilha dentro de um arquipélago, nosso grande desafio centra precisamente nesse aspecto da comunicação com outros centros e espaços de fruição, com outros pensadores e criadores, de forma a poder dar outra dinâmica ao setor daqui. Nós estávamos precisamente a prepararmo-nos para a internacionalização de nossas atividades. Essa é uma estratégia que a pandemia acaba por afetar e colocar em questão drasticamente. Para nós, a impossibilidade dos diálogos internacionais também afetará fortemente nossa atuação e mediação educativa, uma de nossas bases fundamentais. Estamos, assim, em um momento de reflexão, pensando em como isso vai evoluir e afetar este nosso pensamento de disseminação e intercâmbio e as portas que desejávamos abrir.
Agora temos que buscar como aproveitar desta dinâmica nova, para montar um novo pensamento, mas estamos em um modo standby, tendo em conta que a nossa matéria é o público. Eu precisamente tenho vindo a refletir como poderia ser nosso futuro. Já faz quatro anos que estou na direção do CCM, e percebo que nós produzimos muita programação e conteúdo. A questão da memória é central para nós, de modo que sempre deixamos rastilho à nossa marca. Nós trabalhamos com muitos criadores e temos de antemão grande valor de criação. Podemos pensar, assim, em transformar alguns de nossos espaços em estúdios de gravação e edição de conteúdo, colaborando com pensadores, escritores, filósofos e artistas, sem perder o foco nas três áreas performativas nas quais atuamos.
Nessa primeira temporada, para além do Micadinaia Fest, tínhamos previsto também um dos grandes momentos de nossa programação que é o Il y a Dance, um festival de dança. Il y a, para além do significado de “haver”, em francês, também quer dizer “juntar”, em crioulo. O festival ocorreria no mês de maio e tinha como objetivo trabalhar a dança numa perspectiva de socialização, trazendo como convidado o Teatro Victoria, de Santa Cruz de Tenerife, nas Ilhas Canárias. A partir daí, passaríamos a fazer todos os anos esse mesmo festival, que começaria a criar uma base para circulação internacional, com foco não apenas em criação, mas também em formação, atuando no espaço da Macaronésia, onde entravam Ilhas Canárias, Senegal, Marrocos e, quem sabe, Açores e Madeira. Já no próximo ano, o foco seria na cocriação. Estávamos interessados em fazer com que o festival fosse de fato um momento formativo, e o próximo país convidado seria Moçambique, trazendo um outro panorama e dando-nos acesso a uma outra rede, a dos países africanos de língua portuguesa, os PALOP (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe).
Desde a minha existência como criador eu lido com este espaço, que é uma comunidade politicamente criada, mas que não passa disso. Nós temos noções completamente enciclopédicas do que é o espaço da CPLP, do que é o Brasil e Angola, por exemplo, que são países riquíssimos, enormes e diversos. Hoje, mais do que nunca, passados vários anos, essa comunidade ainda não tem marcas concretas em nossas vidas. Aquilo que é fundamental, que faria com que o que hoje é apenas político passasse a ser prático, é sem dúvida a parte cultural. No fundo, as perspectivas culturais e afetivas deveriam ser pensadas desde um primeiro momento, porque a circulação é fundamental e permite conhecer os espaços, os cheiros e as cores. Com uma rede cultural poderíamos dar outra resposta. Temos uma miopia em relação aos nossos próprios vizinhos, condicionados que estamos a olhar sempre para um lado, não tendo uma visão 360 graus. Isto implica em uma ignorância lógica e em não ter capacidade para ver.
Todos esses planos infelizmente têm agora de ser repensados, e esperamos para ver o que poderemos fazer. Estou, precisamente neste momento, a trabalhar sobre as novas perspectivas do CCM no decorrer dessa condição e no pós-pandemia. Nós não podemos ficar à espera, e isso aguça nossa criatividade. O CCM, como sala de atividades e fruição artística da cidade, ao estar fechado, faz muita falta. A cidade neste momento depende enormemente desse espaço, justamente por aquilo que fazemos. Apenas neste ano, nós tínhamos cerca de 17 exposições programadas. Nós temos uma programação semanal, quinzenal, mensal, bimestral, semestral… Isso está dependendo de como as coisas vão evoluir. Nós temos o público como primeiríssima condição. Temos uma grande sala com capacidade de 220 lugares, um pátio interior com aproximadamente 200 lugares, além de uma grande sala multiuso que funciona para exposições e também como um pequeno auditório, com 150 lugares.
Pensamos, por exemplo, em uma entrada controlada e mediada em exposições, mas não sei se teremos as condições de realizar concertos para 10 ou 15 pessoas a cada vez. Tenho pensado em criar painéis exteriores, usando a fachada e a rua para apresentar exposições. Isso pode ser uma maneira de virmos a desenvolver novas formas que possam ser interessantes. Não podemos ficar à mercê do quando e como virá.
O atual governo, a meu ver, foi muito inteligente na atuação perante a pandemia. Ao estabelecer o estado de calamidade em um primeiro momento, seguido pelo estado de emergência, fez com que o país se dotasse de capacidades técnicas, nomeadamente de condições nos hospitais, e a realização de triagens em cada ilha. Isso foi um trabalho expressivo e que deu resultado. Hoje temos a Ilha de São Vicente em estado de calamidade, mas sem casos, com a população continuando a ter os cuidados necessários.
Nós, como espaço cultural que trabalha diretamente com vários setores da cultura, estamos a desenhar juntamente com o Ministério da Cultura e Economias Criativas um pensamento para o setor. Essa crise veio de assalto a todos os países do mundo, e não houve um que não tenha sido apanhado de surpresa. Estamos desde março assim, em estado de escuta, ouvindo artistas e outros profissionais. Um dos aspectos fundamentais da cidade do Mindelo, uma cidade que é cosmopolita em sua natureza, é a sua capacidade de resposta. Com facilidade a cidade responde. Convidada a participar, ela prontamente o faz. E essas são medidas que terão de se tomar escutando a todos os envolvidos. Entendendo, entretanto, que o timing de nossa atuação tem de ser já, porque cada dia que passa isso se torna uma mazela na vida dos profissionais do setor e também do público em geral.
Foi essa capacidade de resposta que felizmente nos permitiu sermos rápidos em termos de atuação. A cidade recolheu quando foi chamada a recolher. As pessoas começaram a produzir e distribuir máscaras para o público e instituições que estavam em necessidade. Muitos técnicos começaram a prototipar e a produzir equipamento de proteção, e a população parece estar respeitando bem as medidas e tomando todas as precauções.
O grande festival de música da cidade, o Festival Baía das Gatas, acabou por disponibilizar o dinheiro de seu orçamento para a atuação social no combate à pandemia. As pessoas têm por hábito a solidariedade neste arquipélago e gostam de apoiar uns aos outros, naquilo que chamamos de junta mon, o ato de se juntar as mãos. Em um arquipélago, atuamos sempre em parcelas, de maneira fractal, em que uma parcela contamina positivamente a outra. Espero que esse tipo de pensamento e atuação perdure, com atenção e solidariedade, e as instituições pensando em formas de ajudar os profissionais mais necessitados do setor. Isso é um momento de criação, aqui começa tudo. Um setor que gosta de desafios é o setor cultural e artístico, e o mundo que vamos herdar não vai ser a mesma coisa. Sem dúvida a tecnologia é o que temos pela frente. Nós como criadores, artistas, fruidores de ideias e agitadores culturais vamos ter que utilizar mais disso.
Até então a tecnologia era uma espécie de ferramenta a se utilizar. Alguns usavam, outros não. Há ainda aqueles que a usavam na medida do necessário e possível. Agora, esta condição nos fez entrar de cabeça nisso. Essa transnacionalidade através dos medias e da tecnologia passará a ser uma coisa mais concreta. Podemos usar o Zoom para fazer uma reunião, assim como poderíamos estar a tocar uma partitura orquestrada em partes diversas do mundo.
Eu gosto imenso de uma frase do Nietzsche que diz que os políticos, os cientistas e os líderes religiosos prometem, mas os artistas têm que fazer. É o último grito a dizer que precisamos atuar. Não há tempo para lamentação, devemos criar condições e a disposição para uma profunda reflexão direcionada a construir outras formas de atuação. Vamos ter que pensar o mundo realmente de uma maneira global, não poderemos ficar fechados em regionalismos e problemáticas exclusivas, vamos ter que pensar juntos.
As revoluções tecnológicas nos deixaram no limbo da individualidade. O que estamos neste momento a dar-nos a chance de perceber é a revolução de nossa condição humana e global. Um só homem é capaz de transformar a sua casa, a sua aldeia, a sua ilha, e o seu país inclusive. Somos muitos países e pessoas, mas temos uma casa comum. Infelizmente só nos damos conta disso em momentos como esta pandemia. Uma borboleta dançando na China fez barulho em todo mundo.
Esse momento deixa claro que o conhecimento não está apenas nos países desenvolvidos. Está sobretudo em países que têm outros tipos de conhecimentos. O estabelecido de que os países que não têm visibilidade possuem pouco conhecimento já é démodé, já caiu em desuso. Temos que criar uma rede de possibilidades de contaminações positivas, que vai criar uma outra forma de atuação, e não apenas na perspectiva do digital. Temos que arranjar outras formas de penetrar nas pessoas. Esta ideia de vida e morte, que a arte e a cultura guardam, só é possível quando estamos com o corpo presente.
Eu trouxe ao CCM a dimensão da relação com o outro como uma premissa para nossa atuação. Um rinoceronte negro que é míope e, por não conseguir ver, torna-se agressivo é considerado um animal feroz. Ao mesmo tempo, é muito generoso e é capaz de ceder água a qualquer outro animal. Mas apenas pelo fato de não poder ver, corre em qualquer outra coisa. Isso quer dizer que sem aquilo que nos faz projetar a visão e outros interesses de forma espiritual e cultural, não vamos a lado nenhum. O mundo precisava deste colapso para perceber que realmente não podemos andar míopes a esbarrar nas coisas, mas devemos ir ao encontro delas e passarmos a ver a verdade.